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Ué? Quilombo não é só aquele do Zumbi?

  • Carlos Eduardo Valdez
  • 5 de set. de 2016
  • 9 min de leitura

Ué, quilombo não é só aquele do Zumbi?

Você provavelmente já ouviu falar em Quilombo dos Palmares. A sua história é constantemente exaltada em vídeos, músicas e reportagens especiais, sobretudo ao se aproximar o dia 20 de novembro, data de aniversário de morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares. Os quilombos foram grandes exemplos de luta e resistência da população escravizada no Brasil, mas quantos e quais quilombos você já ouviu falar além de Palmares? Já ouviu falar em grupos remanescentes de quilombolas? Sabe pelo que eles lutam?

Esta atividade irá desafiá-lo a viajar pelo mundo quilombola e para isso conta com duas músicas: a primeira é um samba-de-enredo da Beija-Flor do ano de 2007 e a segunda é um rap do Realidade Negra, grupo formado por jovens pertencentes à comunidade de remanescentes de quilombolas do Campinho em Paraty/RJ. Essas duas músicas serão a base das nossas atividades, então dê o play, acompanhe as letras e prepare-se para os desafios.


Música 1

Samba Enredo da Beija-Flor de 2007- Áfricas: Do Berço Real à Corte Brasiliana

Compositores: Claudio Russo, J.Velloso, Gilson Dr e Carlinhos do Detran

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor

Sou quilombola Beija-Flor Sangue de Rei, comunidade (bis) Obatalá anunciou Já raiou o sol da liberdade

Olodumarê, o deus maior, o rei senhor Olorum derrama a sua alteza na Beija-flor Oh! Majestade negra, oh! mãe da liberdade África: o baobá da vida ilê ifé Áfricas: realidade e realeza, axé Calunga cruzou o mar Nobreza a desembarcar na Bahia A fé nagô yorubá Um canto pro meu orixá tem magia Machado de Xangô, cajado de Oxalá Ogun yê, o Onirê, ele é odara É Jeje, é Jeje, é Querebentã A luz que bem de Daomé, reino de Dan (bis) Arte e cultura, Casa da Mina Quanta bravura, negra divina Zumbi é rei Jamais se entregou, rei guardião Palmares, hei de ver pulsando em cada coração Galanga, pó de ouro e a remição, enfim Maracatu, chegou rainha Ginga Gamboa, a Pequena África de Obá Da Pedra do Sal, viu despontar a Cidade do Samba Então dobre o Run Pra Ciata d`Oxum, imortal Soberana do meu carnaval, na princesa nilopolitana Agoyê, o mundo deve o perdão A quem sangrou pela história Áfricas de lutas e de glórias

Glossário


Agoiê: Deus dos conselhos na cultura jeje.


Axé: A força sagrada de cada orixá que se revigora, no candomblé, com as oferendas dos fiéis e com os rituais. Expressão equivalente a “assim seja” ou “tomara”.


Baobá: é a árvore de tronco mais grosso do mundo chegando a medir mais de vinte metros de diâmetro e podendo armazenar até cento e vinte mil litros de água. Seis espécies dessa árvore são nativas de Madagascar na África. O Baobá é também, árvore símbolo do Senegal.


Calunga: tradicionalmente no idioma bantu, calunga significa cemitério. Mas a partir do Tráfico Atlântico a palavra ganhou mais um significado, pois o mar passou a ser visto como um lugar de tristeza, dor, de morte e por isso passou a ser chamado também de Calunga Grande, ou o Grande Cemitério.


Ifé: antiga cidade yorubá, no sudoeste da Nigéria. Na Idade Média era considerada uma cidade sagrada para os iorubás.


Ilê: Casa, moradia, residência.


Jeje: também chamados de daomeanos são um povo africano que habitam os atuais territórios de Togo, Gana e Benim. Durante o Tráfico Atlântico esse povo foi escravizado e no Brasil criou uma das vertentes do candomblé.


Nagô: era a designação dada aos negros escravizados na antiga Costa dos Escravos (atuais Togo, Benim e Nigéria) e que falavam ioruba.


Obatalá: o maior de todos os Orixás. O primeiro criado por Olodumare.


Odára: palavra que qualifica com atributos positivos: belo, bom, excelente, etc...


Ogun Yê: saudação em respeito ao orixá Ogum; guerreiro, deus da metalurgia, da coragem, protetor das casas, templos e dos caminhos.


Olodumarê: deus supremos dos iorubas. Criador do universo.


Olorum: o mesmo que Olodumare.


Onirê: é uma qualidade de Ogum ligada aos antepassados; guerreiro orgulhoso, impaciente e muito impulsivo.


Orixá: designação genérica dada às divindades das religiões afro-brasileiras.


Querebentã: nome dado à religião afro-brasileira que se pratica no Estado do Maranhão. Também conhecida como Tambor de Mina.


Run: um dos três tambores utilizados nos cultos de candomblé. É o mais importante de todos. Dobrar o rum significa fazer alterações rítmicas para que o toque não fique repetitivo.


Yorubá: grupo étnico africano que habita a atual Nigéria. É também um idioma falado por esse povo.




Músca 2: 100%

Compositores: Não informados

Intérpretes: Grupo Realidade Negra disponível

Sou quem sou tenho a cor da noite, a noite a minha cor

Eis aqui os neguinho com sonho e muita luta

Distante de tudo e todos né meu truta?

Andava na rua motivo de mal olhado

Não aceitava a forma que era tratado

Então me explicaram o que eu não entendia

Mano aconteceu tantas coisas “cê” nem imagina

Morte, sequestro, covardia, escravidão

Não é de agora essa perseguição

Por isso eu te digo honre a sua cor

E seja você aonde for

Só que eu olho a maioria é minha raça que está no presídio

Morto por tiro a maior parte parece comigo

A vida me ensinou:

- Parte pra cima nego!

Não pela emoção e sim pelo amor

Senhor de engenho ou barão, rei do café

Querem fazer de tudo para não me ver em pé

Não nasci com sangue azul, nem num berço de ouro

Só que eu nasci com a cultura e a garra do meu povo

Na música, na arte e na dança esperança eu vi no olhar de uma criança

Reverencio o passado, dou valor ao presente

Amo por ser afrodescendente

Correndo pelo nosso direito

Sou quem sou, sou 100% negro

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 então sou quem sou

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 100% negro

Fale de mim o que quiser, assim que é

Sou pobre, preto, quilombola, eu não sou mané

Tenho orgulho do que sou vou honrar minha cor RN e K2

(Sou quem sou) Zé povinho me vê tocando um tambor

Já me olha diferente por causa da minha cor

Mas vou falar pra você é de nossa raiz

A capoeira, o jongo, a feijoada que você sempre quis

De Black Power as tranças responsas que você vê em meu povo

E pede o mesmo pra sua criança

Aí racista! Não vem que não tem

Se não gosta de preto pinta o cabelo de louro também

“Com nós” não se importa e não tá nem aí

Mas nossa persistência de luta te incomoda e “cê” não quer admitir

Dia 20 de novembro pra você passa batido

Mas pra nós aqui é um dia festivo

Reunimos os quilombos e vamos festejar

Pelas vitórias alcançadas e ao que vamos alcançar

Realidade Negra invadindo sua mente

Com um som positivo, um som consciente

Correndo pelo certo e pelos nossos direitos

Rumo e sucesso para o povo preto, para o povo preto

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 então sou quem sou

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 100% negro

K2 e RN resistência comprovada, tio

Realidade Negra nas terras do Brasil hostil

No amor, no talento, contando a nossa história

Orgulho de ser negro, retinto e quilombola

Ser negro de atitude é assumir sua negritude a sua pele é uma virtude

É desse jeito então não mude

Seja no Prouni, Enem chego chegando

Falar de abolição, quilombo ou Milton Santos

E na dimensão ciência e sabedoria

K2 entra em cena cinema e filosofia

Frequentar escola, fazer o colegial (eu quis)

Entender o racismo na parte estrutural (do país)

Que o negro da favela se erga seja solícito

Moral para os mais velhos que não têm culpa disso

Desde o início, que o rap é compromisso

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 então sou quem sou

Honre a sua raça, honre a sua cor

RN, K2 100% negro

DESAFIO I – E a música nessa história?

1) Ouça novamente a música 1 e risque os instrumentos que não foram utilizados nela.


2) Agora explique por que provavelmente cada um dos instrumentos que você marcou não foi escolhido para gravar o samba da Beija-Flor.








3) Leia e ouça novamente os primeiros dezoito segundos da música 1. É o trecho: “Calunga cruzou o mar/ Nobreza a desembarcar/ Na Bahia/ A fé nagô yorubá/ Um canto pro meu orixá/ Tem magia".


a) Na sua opinião esse trecho quis passar para o ouvinte um sentimento de:


*Obs: pode marcar quantas alternativas quiser.


( )Tristeza ( ) Luta ( ) Incerteza ( ) Agonia ( ) Medo ( )Dor


( ) Encantamento ( ) Felicidade ( ) Contemplação



b) Esse trecho provocou em você algum sentimento que não está inserido no quadro acima?




c) Quais foram os elementos musicais que ajudaram a formar os sentimentos que você marcou no trecho destacado?



4) Os intérpretes da música 2 conseguiriam passar as mesmas mensagens se ao invés do Hip-Hop eles a gravassem em outro gênero musical como samba ou um forró? Justifique a sua resposta.




5) A partir de palavras existentes nas músicas 1 e 2 sugira outras músicas com temáticas semelhantes fazendo com que cada palavra puxe uma música. Por exemplo:


  • A música 1 contém a palavra rainha Ginga.

  • Há um samba da Vila Isabel que fala sobre Angola e tem um verso que diz Reina Ginga ê matamba...

  • O samba da Vila Isabel tem a palavra Kizomba.

  • Luiz Carlos da Vila tem um samba chamado Kizomba.

  • No samba do Luiz Carlos da Vila tem a palavra Caxambu.

  • Almir Guineto tem um samba que fala sobre festa e jongo chamado Caxambu.

  • Na música do Almir Guineto tem a palavra jongo.

  • Nei Lopes tem uma música com a palavra jongo chamada Jongo do Irmão Café.


DESAFIO II – Sou Quilombola!



1) O título da música 1 é: “Áfricas: Do Berço Real à Corte Brasiliana”, mas todos nós sabemos que há apenas um continente africano no mapa mundi. Isso significa que a palavra África está no plural por quê:


a) O samba se refere à África do Sul especificamente e ao restante do continente.

b) A África é um continente que apresenta enorme diversidade.

c) O samba se refere à África do presente e do passado.

d) Foi um erro de digitação.



2) O refrão da música 1 diz: “sou quilombola Beija-Flor/ Sangue de rei, comunidade...”. Isso significa que:


a) Nilópolis é um quilombo contemporâneo.

b) A comunidade considera que um quilombo é algo negativo.

c) A escola têm componentes foragidos em quilombos.

d) A escola assume e se orgulha de suas heranças africanas.



3) Sobre as experiências quilombolas ao longo da história do Brasil podemos afirmar que:



a) Para conseguirem continuar existindo os quilombos precisaram se instalar no interior de matas de difícil acesso sem manter nenhum tipo de contato com o mundo exterior, caso contrário seriam recapturados.

b) As comunidades quilombolas formadas durante o período colonial nunca se isolavam totalmente do mundo externo, pois com ele continuava negociando produtos ou melhores condições de vida.

c) Os quilombos do período colonial demonstram a força da cultura dos escravos, pois lá eles conseguiam recriar o modo de vida idêntico ao que se tinha na África.

d) Os escravos que se refugiavam em quilombos conseguiram formar comunidades agrícolas onde somente a presença de negros era admitida para que o grupo pudesse manter suas raízes étnicas.


4) Sobre Palmares marque a alternativa correta:


a) Pesquisas arqueológicas recentes indicam que Palmares não era composto apenas por escravos africanos. A presença indígena também era marcante nesse quilombo.

b) Pesquisas históricas indicam que o quilombo de Palmares só conseguiu resistir por tanto tempo por que seu líder Zumbi era um herói que nada temia.

c) O exemplo de Palmares foi tão forte e causava tanto medo entre os ricos fazendeiros que logo as elites trataram de encaminhar a abolição da escravidão.

d) O quilombo dos Palmares só durou tanto tempo porque ficava em uma região de difícil acesso e que os brancos não conheciam.


5) A música 1 contém uma série de palavras que são de outro idioma, como por exemplo, Olodumarê, Ilê, Ifé, Calunga, etc. A maioria dessas palavras pertencem ao idioma:


a) Africano usado por todo o continente.

b) Angolano, já que foi de Angola que veio a maior parte dos escravos.

c) Moçambicano usado pela maior parte dos escravos que chegou ao Rio de Janeiro.

d) Iorubá, utilizado pelo povo de mesmo nome, originário da atual Nigéria.


6) Quando você estava no sexto ano provavelmente estudou a mitologia grega e viu que seus deuses tinham forte relação com elementos da natureza e com atividades do dia-a-dia dos humanos. Os deuses das religiões afro-brasileiras também têm essas características. A música 1 citou o orixá Ogum que é o Deus:


a) Da caça

b) Da metalurgia e da guerra

c) Das florestas

d) Das rochas


7) Aos 2 minutos e 34 segundos de execução do vídeo da música 2 os intérpretes cantam os seguintes versos: “Dia vinte de novembro pra você passa batido/ Mas pra nós aqui é um dia festivo/ Reunimos os quilombos e vamos festejar/ Pelas glórias alcançadas/ E ao que vamos alcançar (...)


No dia festivo mencionado pela música se comemora:


a) A assinatura da Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil.

b) A assinatura da Lei do Ventre Livre que tornava livre os filhos de escravos nascidos a partir de sua promulgação.

c) O Dia Nacional da Consciência Negra em homenagem ao aniversário de morte de Zumbi dos Palmares.

d) O Dia Nacional da Consciência Humana que visa valorizar o ser humano independentemente de suas origens raciais.


8) Zumbi dos Palmares foi:


a) Líder do Movimento abolicionista no Brasil no século XIX.

b) Líder da Revolta do Malês na Bahia durante o Período Regencial.

c) Líder da Revolta da Chibata que denunciou o preconceito racial nas forças armadas.

d) Líder do maior quilombo da história do Brasil Colonial.


9) Aos 3 minutos e 33 segundos a música 2 cita Milton Santos que foi:


a) Um geógrafo negro, brasileiro, multipremiado que criticava a forma como se dava o processo de globalização nos anos noventa.

b) Um dos maiores jogadores do Botafogo de Futebol e Regatas.

c) O único presidente negro que o Brasil teve até então.

d) Um sociólogo negro, brasileiro, autor de diversos livros e responsável pela criação do sistema de cotas nas universidades brasileiras.


10) Logo no início do vídeo da música 2 aparece uma arte com uma seta saindo de M’Banza Congo na atual Angola e chegando a Paraty, no Rio de Janeiro. Essa arte faz uma alusão a (ao):


a) Origem de todas as comunidades quilombolas do Brasil. É sabido que todos os africanos que aqui desembarcaram durante o período colonial vieram de portos angolanos.

b) Tráfico transatlântico que trouxe forçadamente os ascendentes do Quilombo do Campinho em Paraty. Lugar de origem dos integrantes do grupo Realidade Negra.

c) Afinidade que o Brasil tem com a África, já que todo o continente apresenta uma grande unidade cultural independente do país em questão.

d) Às viagens de descobrimento de Pedro Álvares Cabral que, na verdade buscava alcançar as Índias.


 
 
 

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